sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sete meses







E começa pela manhã.
Com as pálpebras pesadas e a cabeça atormentada,
me esparramo em qualquer cadeira e isso me dá sensação de que peso mais.
Meu primeiro contato com o mundo são meus pelos arrepiados pelo brisa gelada da manhã enquanto a minha cafeteira insiste em engasgar ao passar o café e eu me sinto terrivelmente nostálgica da minha própria burrice.
Eu me acabo em contradições toda vez que me pego vivendo de novo o que deve ser esquecido. Como era bom o tempo sem tempo.
Como era bom acordar
de supetão e na alegria da melodia de Dedos Vertiginosos .
Olhar para o lado só  pra ver que nós estávamos lá.
Fechar os olhos
e repousar o coração.

Lá estava eu com as roupas mais desgastadas, os cabelos enroscado e o dia abafado.
Eu a perambular pelos corredores de onde se ouvia claros rumores
na loja à frente. Gente com gente totalmente trabalhadora.
Acendia meu cigarro e num breve momento meu olhar se compenetrava no céu.
Estava tudo bem e sempre iria ficar.
Um sincero bom dia e só esperava que você despertasse para olhar em seus olhos e meu dia começar.
Na ansiedade das conversas,
No cheiro do almoço, no sabor do tempero que ainda tento buscar,
ela também estava lá,
todos estavam
sentados à mesa.
Você abria seu jornal
com o mau humor de criança que me encanta e
me lançava olhares diante ao
meu silêncio curioso, com um leve sorriso estampado.
Eu não precisava falar.
Era amor e você sabia.
Amor por observar,
por estar lá,
por todos eles também que
nesse todo vai e vem,
me faziam querer ficar.
Você sabia que eu ia ficar
e faria de tudo pra continuar.
Sempre.
Talvez você não percebesse
que tudo se resumia
na união dos dias mais fortes
e dos dias quase desistidos.
Tudo isso era maravilhoso entre todos seus pesares
e em seu melhor ofício.
A gente sentia o que era a vida
passando nos olhares.
Vida fragmentada em cada detalhe.
Meu abstrato concretizado.
Onde tudo era muito bom
em sua essência de rotina
e eu sempre lá
pra tomar uma cerveja, me afogar em porcarias, disputar jogos,
só pra estar em sua companhia.
E isso você sabia,
já que tatuado no ombro fez o significado da vida em seu maior fervor.
Um beijo meu por dia pra ritualizar o que era amor
e como era bom ter amor pra verbalizar.
Todas as ruas só me levavam a um lugar,
todos os lugares por onde passávamos eram passos marcados
e toda essa história de que pessoas se completam,
alma gêmea,
e de que há o pra sempre
me faziam acreditar de que eu fui feita pra ser,
porque só tem graça ser para alguém.
E posso agora escrever
sobre aquela casa,
sobre os corredores,
sobre a melodia,
o que eu sentia e
o que foi amor.
Sobre todos e como ainda continuam por aqui.
Como eu costumo me acabar em lágrimas pela falta que sinto daquele colchão
desde o primeiro dia ao encontrar o meu lugar nele
e de como você faz pra preenche-lo agora, sujando o branco do lençol com todas essas mentiras.
Em como hoje a cidade é vazia por todas as ruas que ainda me levam até lá
mas agora já me perco pelo buraco que existe da minha porta até a sua.
E é tudo tão escuro
que ainda procuro a claridade das lembranças
onde os jogos, as porcarias, nossa cerveja, o computador,
meu cigarro depois do almoço com o tempero que busco,
enquanto você abre seu jornal,
enquanto o céu compenetra no meu olhar
quando eu sei que tudo esta bem e vai ficar,
me faz observar, ficar em silêncio só pra você ficar curioso
mesmo quando sabe que é amor,
no seu mau humor de criança
que me encanta
enquanto eu espero você acordar,
numa tarde abafada,
no colchão que achei o meu lugar,
e todos estavam lá
ela também estava,
e um sincero bom dia pra olhar no seus olhos e sentir que meu dia já pode começar.
Sete meses acabou em anos de um erro e tanto que ainda conto.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Testamento.





Preciso me contar um segredo,
deixar minha alma livre sem medo.
Eu nasci pra me fazer feliz.
Cavei com uma pá um buraco para todos meus desapreços e
jogo com eles tudo o que não há um recomeço.
Afinal,viver a vida só se for com apetite voraz.
Piso em terra apenas para amar. Quando tiver amado mais do que pude
e me acabar,
por favor me entreguem ao mar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Escrever

... é o jeito que encontro pra matar tudo o que me aconteceu.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Comprimido

[Tome um comprimido,]
Alivie a dor de cabeça,
Aquela maldita
Com a cadência do tormento.
Do tempo
que a vida lhe proporciona.

Molhe o rosto
Com água gelada.
Sinta o choque. 
Ela pede pra você voltar.
Volte à realidade que agora é irrelevante.

Onde pessoas transitam
como se a vida fosse um único caminho
a ser seguido.
Sem fim,
Impiedoso,
Cronometrado .

Pessoasd
despertando umas nas outras faíscas.
Pessoas construindo essa massa devastadora,
que devora,
agressivamente, incoerentemente.
E pulveriza meus sentimentos.

Percebo que tô bem no meio dela.
E então?
Tome um comprimido!
Tome uma dose de mentira,
Pegue sua vida
E se encaixe nela
Mas me diga...
Quem você pensa que é?


Sinta-se imóvel
Paralise-se
Fuja por um momento e sinta-se hostil
Sinta-se justo
ache um lugar pra você
mesmo que seja só em você.

Mas a água gelada,
O comprimido,
As horas,
Elas exigem sua mente
Volte meu amigo!
Volte e continue a luta.

E me diga.
Quem você pensa que é?